Prefeitura entrega mural grafitado que conecta Salvador e Benin em Valéria

Foto: Otávio Santos/ Secom PMS
Texto: Nilson Marinho/ Secom PMS
O bairro de Valéria, em Salvador, ganhou um novo símbolo de identidade e pertencimento. Nesta quinta-feira (4), durante uma cerimônia simbólica, foi apresentado um mural grafitado produzido no âmbito do projeto “Ocupa Casa do Benin Expandido”, iniciativa que reuniu artistas locais e estrangeiros em um processo de criação coletiva. A parede escolhida para receber a obra foi a do Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU), situado na localidade.
A obra, produzida por cerca de 10 artistas, celebra o intercâmbio entre Salvador e o país africano Benin. A ideia foi reforçar a importância da preservação da memória e da ancestralidade, além da promoção da arte com a participação ativa da comunidade escolar e de equipamentos sociais situados em Valéria.
O painel é resultado de uma parceria entre a Fundação Gregório de Mattos (FGM), a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e a Universidade Federal da Bahia (Ufba). De acordo com a gerente de equipamentos culturais da FGM, Manuela Sena, a proposta da construção do mural grafitado surgiu após a vinda da artista beninense Drusille Fagnibo ao Brasil. Ela trouxe a ideia de deixar um marco simbólico de sua passagem pela capital baiana.
O processo de construção da arte, ainda segundo Daniela, surgiu a partir de oficinas e rodas de ideias realizadas com grafiteiros locais, em que a comunidade também opinou sobre o que gostaria de ver representado em seu dia a dia.
“Trouxemos a artista beninense, das artes visuais, para dialogar com grafiteiros da região e com artistas locais de diferentes linguagens. Fizemos oficinas de brainstorming para pensar coletivamente quais símbolos, imagens e cores traduziriam o sentimento dessa comunidade. O resultado é um mural que celebra a diáspora africana e reforça os vínculos entre Benin e Salvador”, contou.
O envolvimento dos moradores foi fundamental durante o processo. Jovens, alunos das escolas da região e pessoas atendidas pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras), que fica dentro do CEU, participaram dos encontros e acompanharam o avanço do trabalho, que levou quase um mês para ser concluído.
O produtor cultural Carlos Victor, de 22 anos, morador de Valéria, diz que o mural expressa tanto os símbolos do bairro quanto os marcos históricos de Benin, o que transformou a obra em uma conexão entre dois territórios.
“Foi um processo longo, que durou quase um mês e envolveu vários artistas. Cada um trouxe suas vivências e perspectivas, e isso resultou numa obra coletiva, em que cada detalhe tem um pedaço da história de quem participou. O mural une elementos de Valéria, como a Lagoa da Paixão, a fauna e a flora, com referências de Benin, como o Portal do Não Retorno. É um diálogo entre continentes que se materializou nas paredes do CEU”, destacou o jovem.
Outros grafiteiros locais se uniram à muralista beninense e encontraram no projeto a chance de trocar técnicas e estilos, como foi o caso de Felipe Hawkins, artista do bairro da Palestina e integrante do movimento hip-hop. Na avaliação dele, o intercâmbio ampliou horizontes e valorizou a produção artística das periferias. Ele lembra que o grafite e o picho, muitas vezes marginalizados, ganharam reconhecimento através dessa experiência de criação conjunta.
“Eu venho da cultura hip-hop, que é formada por quatro elementos: o break, o grafite, o DJ e o rap. Fazer parte desse intercâmbio foi maravilhoso porque trouxe valorização para o grafite e para o picho, que são culturas únicas de Salvador. Tivemos a chance de aprender com a artista beninense e também de trocar experiências entre a velha e a nova escola do grafite da cidade. Essa união com o muralismo resultou numa obra que representa Salvador, Valéria e Benin, trazendo símbolos como a Lagoa da Paixão, os paredões e as mãos, que significam força e união”, explicou Hawkins.
Valorização territorial – A entrega oficial do mural contou com a presença de alunos das escolas municipais Natália Leal, Jandira Dantas e da Palestina, além de representantes do Subúrbio 360 e do Cras. O evento também reuniu gestores culturais e outras autoridades.
O presidente da FGM, Fernando Guerreiro, comentou sobre a importância de trazer o mural para Valéria, em vez de centralizá-lo em áreas mais turísticas da cidade. Segundo ele, a decisão foi estratégica para valorizar o território e reconhecer sua potência cultural.
“Quando a artista beninense chegou, poderíamos ter feito o mural no centro da cidade, mas optamos por trazê-lo para Valéria. Fizemos isso para mostrar a força do bairro, do Boca de Brasa e dessa população que sempre participa das atividades. A Prefeitura tem um olhar especial para toda a cidade, e nada como a arte e a cultura para movimentar, educar e construir um futuro melhor. Esse painel agora pertence a vocês, é um marco e um legado do bairro”, disse Guerreiro.
A vice-prefeita e secretária de Cultura e Turismo, Ana Paula Matos, também participou da entrega e aproveitou o encontro para anunciar novidades. Ela revelou que, ainda este ano, a Prefeitura vai levar festivais culturais para dentro das escolas municipais, incentivando a juventude a explorar e valorizar seus talentos.
“Estamos preparando, junto com a Educação, um projeto para entrar nas escolas com festivais de arte e cultura. Quem for bom de dança vai dançar, quem for bom de break vai dançar break, quem tiver talento para a música ou para as artes vai mostrar suas habilidades. Essa juventude é a cara de Salvador e precisa ter espaços para se expressar”, afirmou a vice-prefeita.
Acesse a galeria de fotos: https://comunicacao.salvador.ba.gov.br/mural-artistico-conecta-bahia-e-benin/ .