12 de novembro de 2025
Politica

Quem é Guilherme Derrite, relator do PL Antifacção e policial retirado da Rota por alta letalidade

Em 2022, Guilherme Derrite foi reeleito deputado federal pelo Partido Progressista (PP-SP), ao receber 239.772 votos dos eleitores paulistas. Um dos primeiros atos na nova legislatura foi se licenciar do cargo e aceitar o convite do então novo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para assumir a Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP) do Estado.

Na semana passada, Derrite voltou a assumir seu posto em Brasília para ser o relator do Projeto de Lei Antifacção, de autoria do governo federal. A norma é a mais nova estratégia do Executivo para combater o crime organizado, estabelecendo penas mais severas para crimes cometidos por facções criminosas.

Guilherme Derrite é deputado federal (PP-SP) e secretario de segurança de São Paulo.
Guilherme Derrite é deputado federal (PP-SP) e secretario de segurança de São Paulo.

Logo após assumir a relatoria do PL Antifacção, Derrite apresentou um substitutivo com alterações ao texto original. A nova proposta passou a ser criticada por especialistas e por autoridades em segurança pública no País, por equiparar os crimes das facções ao terrorismo e estabelecer restrições ao papel da PF nas investigações contra o crime organizado. Nesta terça-feira, 11, ele recuou das posições e fez novas alterações no texto.

Antes de entrar na política, Derrite fez carreira na Polícia Militar de São Paulo. Nascido em Sorocaba, no interior paulista, em 1984, ingressou na corporação em 2003, antes de completar 20 anos. Em 2010, tornou-se tenente das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), tropa de elite da PM.

Em 2013, passou a chefiar o pelotão de Força Tática do 49º Batalhão de Polícia Militar Metropolitana (BPM/M), mas foi transferido, em 2015, para o Corpo de Bombeiros, por conta da alta letalidade policial das operações que coordenava.

“Eu saí porque não brincava em serviço. Quando eu trabalhava na Rota, ia para a rua para trabalhar, para defender a população. Fui transferido de maneira covarde do batalhão da Rota porque tive várias ocorrências com resultado, com troca de tiro”, disse em entrevista à Jovem Pan.

Em 2015, quando ainda era 1.º tenente da Rota, Derrite afirmou, em um áudio revelado pela Ponte Jornalismo, que considerava “vergonhoso” para um policial não ter ao menos “três ocorrências” por homicídio no currículo.

Ele chegou a ser detido pela Corregedoria da corporação por causa da gravação, mas o caso foi posteriormente arquivado pela Justiça Militar. Em 2023, em entrevista à Folha de S.Paulo, já como secretário de Segurança, o ex-policial disse que errou ao fazer tal declaração.

Carreira política

Após deixar a Rota e passar pelo Corpo de Bombeiros entre 2015 e 2018, Derrite ingressou na política. Foi eleito deputado federal pelo PP em 2018 e reeleito em 2022, tendo a segurança pública como principal bandeira.

É dele, inclusive, o Projeto de Lei 4.086/2019, que propõe o fim da saída temporária — a chamada “saidinha” — de pessoas condenadas que cumprem pena em regime semiaberto. O projeto ainda tramita no Congresso.

Em seu primeiro mandato, demonstrou apoio e proximidade com o então presidente Jair Bolsonaro e chegou a ser nomeado vice-líder do governo na Câmara. Nas passagens do ex-mandatário por São Paulo, Derrite costumava acompanhá-lo.

Secretário de Segurança Pública

O atual secretário nega que sua aproximação com Bolsonaro tenha motivado a nomeação para o cargo. Afirma ter sido escolhido pelo governador por seu perfil técnico e por ser um estudioso do tema.

“Fui escolhido por Tarcísio por ele conhecer meu outro lado, que as pessoas estão começando a conhecer agora — o de um estudioso do crime como um fenômeno de atividade econômica”, declarou em entrevista ao Estadão. “O que fez o governador me escolher foi o caráter técnico, sem ignorar a questão política.”

Derrite é bacharel em Ciências Sociais e Segurança Pública pela Academia de Polícia Militar do Barro Branco (2006) e em Direito pela Universidade Cruzeiro do Sul (2019). Concluiu ainda uma pós-graduação em Ciências Jurídicas em 2018. Conforme informações do site da SSP-SP, é estudante de mestrado em Políticas Públicas pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP).

À frente da secretaria, acompanhou casos de grande repercussão nacional, como a morte do delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), Antônio Vinícius Gritzbach, no Aeroporto de Guarulhos, em novembro do ano passado; e a execução do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes, em setembro, na cidade de Praia Grande, no litoral paulista.

A letalidade policial e a truculência de agentes nas ruas também se tornaram marcas de sua gestão. Operações no litoral paulista terminaram com dezenas de civis mortos em supostos confrontos com policiais. Encerrada em abril do ano passado, após quatro meses, a Operação Escudo registrou 56 civis mortos.

No ano passado, por conta de uma série de denúncias de violência e abusos da polícia – dentre elas, as mortes de uma criança de 4 anos na Baixada Santista, de um estudante de Medicina baleado em um hotel da capital, de um homem atingido nas costas após tentativa de roubo em um mercado e o flagra de um policial arremessando um homem de uma ponte na zona sul da capital – sua permanência à frente da segurança pública chegou a ser questionada. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), entretanto, descartou a demissão de Derrite.

Embora o Estado tenha registrado queda de indicadores como roubos e furtos em 2024, a Polícia Militar paulista matou 496 pessoas entre janeiro e setembro do ano passado — o maior número desde 2020, conforme dados da Secretaria da Segurança Pública do Estado.

O secretário também já deu declarações demonstrando pouca simpatia pelo uso de câmeras corporais dos policiais militares, instrumento elogiado por especialistas e responsável pela redução da letalidade.

Ao Estadão, em 2023, Derrite disse que pretendia expandir o uso do equipamento. Antes disso, entretanto, chegou a declarar que as câmeras corporais eram um instrumento que “inibe o policial” durante a ação. Em 2024, promoveu uma mudança na gestão do dispositivo, contratando câmeras que permitem ao agente interromper a gravação durante a ocorrência.

 

 

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