Moraes deixa sua marca em início de julgamento de Bolsonaro e antecipa que será seu algoz
Pelo script tradicional do Supremo Tribunal Federal, o primeiro dia de julgamento na corte não costuma ser novidadeiro. A sessão principia com o relator apenas lendo o resumo do caso. Mas o ministro Alexandre de Moraes preferiu já imprimir sua marca.
Antes de iniciar com a leitura do que ocorreu até aqui no processo por tentativa de golpe, o magistrado fez um manifesto. Moraes postou-se no lugar de quem avisa que o STF não admite ser pressionado por quem quer que seja.

O recado é direto ao réu Jair Bolsonaro. Seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, está nos Estados Unidos fazendo e acontecendo em busca de apoio do presidente Donald Trump para evitar que o pai vá para cadeia.
Até aqui fez muito barulho, conseguiu uma sanção comercial imposta ao País inteiro, viu os vistos revogados de ministros do Supremo, mas o pai segue sob julgamento. E muito provavelmente será condenado.
O manifesto de Moraes antecipa que ele será o algoz de Bolsonaro num voto indicando o rumo da cadeia ao ex-presidente. Embora seja tal conclusão já esperada, formalmente, nesta terça-feira, 2, as frases iniciais do relator não deixam dúvidas sobre a dureza do que virá em seu veredicto final.
O ministro declarou que o Supremo deve julgar “independente de ameaças ou coações, ignorando pressões internas ou externas”. E completou: “O caminho aparentemente mais fácil, e só aparentemente, que é da impunidade e da omissão, deixa cicatrizes traumáticas à sociedade e corrói a democracia como lamentavelmente o passado recente do Brasil demonstra”.
Para quem gosta de números, esta terça-feira vem 48 meses ou exatos 1.456 dias após Bolsonaro peitar Moraes num palanque em São Paulo nas celebrações do 7 de Setembro em 2021.
Naquela data, o então presidente avisou para a plateia: “Vou dizer a vocês que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes esse presidente não mais cumprirá. A paciência do povo já se esgotou. Ele tem tempo ainda de pedir o boné e ir cuidar da sua vida. Ele para nós não existe mais”.
Moraes não pediu o boné. Virou relator da ação penal que levará o ex-presidente à condenação por ter planejado um golpe de Estado. Resta ao capitão esperar pela vitória de um discípulo seu em 2026 e a anistia para seus crimes contra o País.