Receita descobre contadores da quadrilha que controlava postos, motéis e franquias de perfumaria
Dois personagens operacionais tiveram um papel fundamental para colocar em prática o esquema de lavagem de dinheiro desmantelado nesta quinta-feira, 25, na Operação Spare. Gilberto Laureano Júnior e João Muniz estão por trás da contabilidade da quadrilha, segundo o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que lidera a investigação.
O Estadão busca contato com as defesas.
Os contadores são suspeitos de criar empresas de fachada registradas em nome de “laranjas” e de fraudar declarações de Imposto de Renda dos líderes do esquema. As manobras foram usadas para tentar despistar órgãos de investigação.
O Ministério Público descobriu que Laureano tem procuração de 941 empresas. Mais de 200 são do setor de combustíveis.
A venda de gasolina e etanol adulterados era a principal fonte de lucro do esquema, de acordo com os investigadores. Com o tempo, o grupo assumiu também o controle de motéis, empreendimentos imobiliários e até franquias de perfumaria.

A Spare é desdobramento de outra investigação, a Operação Carbono Oculto, deflagrada no mês passado, que revelou conexões do Primeiro Comando da Capital (PCC) com o mercado financeiro e a infiltração da facção no setor de combustíveis.
Um dos vínculos do contador é a S4 Administradora de Postos e Lojas de Conveniência, usada na administração dos estabelecimentos de Flávio Silvério, o principal alvo da Operação Spare.
O contador já havia sido investigado na Operação Barão de Itararé, que desmontou um esquema de corrupção na Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo.
Enquanto Laureano cuidou das fraudes envolvendo pessoas jurídicas, Muniz confeccionou e transmitiu à Receita Federal declarações de IR de pessoas físicas, incluindo os informes de Silvério.
As informações prestadas são falsas, segundo os auditores. O Fisco concluiu que os rendimentos declarados não são suficientes para justificar o aumento patrimonial do empresário. Na avaliação do Ministério Público, o dado não deixa “dúvidas da participação ativa de João Muniz nas estratégias de lavagem de dinheiro da organização criminosa”.

Muniz ficou conhecido como o “Contador do Lulinha” por ter trabalhado para Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem também prestou serviços. No ano passado, o contador foi alvo da Operação Fim da Linha, que atingiu empresas ligadas ao PCC. Segundo a Polícia Federal, ele movimentou R$ 525 milhões entre 2020 e 2021, embora declarasse salário de R$ 26 mil no período.
As conexões dos contadores com outros esquemas chamaram a atenção dos investigadores, que pretendem se debruçar sobre sua atuação. Um dos objetivos é verificar se Laureano e Muniz operavam como “lobistas”, oferendo “serviços” a grupos criminosos.
COM A PALAVRA, OS CITADOS
A reportagem busca contato com as defesas. O espaço está aberto para manifestação (rayssa.motta@estadao.com; fausto.macedo@estadao.com).